Foi o Sínodo mais bem preparado. O Documento preparatório elaborado por missionários de longo traquejo no terreno, mais do que propor doutrinas, levantava questões concretas que foram debatidas em centenas de comunidades e dioceses dos 9 países atingidos pela Amazónia. O resultado foi uma acutilante ladainha de clamores dos pobres para a Igreja toda escutar.

Foi o Sínodo que mais suscitou oposição. Porque a alta finança e os estados desprezam índios, consideram vazios de pessoas aqueles 8 milhões quilómetros de água, madeira e minerais em terras que eles querem “livres” para boi e soja. A descaradez dos fundamentalistas de montarem um contra-sínodo em frente ao Vaticano encontrou grandes financiadores e frutificou em montes de filmes e mensagens nas redes sociais. Sem querer, o diabo trabalhou para Deus: fez a publicidade e transformou o sínodo em debate mundial.

As linhas orientadoras foram escritas pelo Papa Francisco, há 4 anos, na Laudato sì: assumir os melhores frutos da pesquisa científica atualmente disponível, deixar-se tocar por ela em profundidade e dar uma base concreta ao percurso ético e espiritual seguido; chegar às raízes da situação actual, de modo a individuar as causas mais profundas; propor a ecologia que, nas suas várias dimensões, integre o lugar específico que o ser humano ocupa neste mundo e as suas relações com a realidade que o rodeia; verificar as grandes linhas de diálogo e de ação que envolvem seja cada um de nós seja a política internacional; propor linhas de maturação humana inspiradas no tesouro da experiência espiritual cristã ( cfr 15); a relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta, a convicção de que tudo está estreitamente interligado no mundo, a crítica do novo paradigma e das formas de poder que derivam da tecnologia, o convite a procurar outras maneiras de entender a economia e o progresso, o valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia, a necessidade de debates sinceros e honestos, a grave responsabilidade da política internacional e local, a cultura do descarte e a proposta dum novo estilo de vida (cfr 16).

Se tudo está interligado, as propostas de ação que surgiram do sínodo são para toda a IGREJA e não apenas para a Amazónia.

Convida-nos a seguir quatro caminhos de conversão:

Caminhos de conversão pastoral para uma igreja samaritana, misericordiosa solidária;
Caminhos de conversão cultural para uma igreja intercultural;
Caminhos de conversão ecológica para a ecologia integral;
Caminmhos de conversão sinodal para os novos ministérios.

Vale a pena descobrir seriamente as veredas que nos levem a atingir esses objetivos.

As propostas de ação que visam salvar os povos da periferia e e a mais nobre floresta do mundo talvez podem valer para salvar os povos e as Igrejas do centro. Navegando todos no mesmo barco, o perigo que um corre rapidamente fará soçobrar os outros. Estamos no mesmo barco.

Pe. Jerónimo Nunes

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