A História da Casa de São Paulo

A CASA DE S. PAULO É UMA VIVÊNCIA.

Quantos testemunhos já ouvimos de e sobre a Casa de São Paulo! – mas quantos de nós sabem a sua história?, – o amor, as dificuldades, sacrifícios e obstáculos que foram necessários ultrapassar e que permitiram a realidade que hoje é.

Existe um pequeno livro de bolso, sobre a história da casa de São Paulo, publicado pelo secretariado dos cursos de cristandade da Diocese do Porto, que me foi dado por um amigo e que me fascinou, assim aqui vai ao jeito da Ultreia uma partilha…

“O Movimento dos Cursos de Cristandade iniciou-se na nossa Diocese em 12 de Abril de 1961, com a realização do primeiro curso de homens. Talvez um dia de escreva a história do que foi e é, entre nós, este Movimento, sempre orientado com a preocupação de serviço à Igreja. Não é essa a história que, neste momento, desejamos contar… Com a certeza antecipada de não conseguirmos o que pretendemos, gostaríamos que todos quantos lessem estas linhas pudessem ficar a fazer uma ideia do que foi e tem sido a realização do sonho que levou a que a Diocese tivesse ao seu serviço a Casa de São Paulo. Diz-se validamente que ninguém poderá saber o que é um curso de Cristandade se o não viver. Todos conhecemos a expressão . De forma análoga, tudo quanto se relacionou e relaciona com a Casa de São Paulo foi e é uma vivência, talvez uma série de com um número incontável de vivências realmente impossíveis de descrever mas que vale a pena tentar contar.

 
UMA NECESSIDADE QUE SE PRESSENTIA
Parece-nos válido dividir em três períodos a «História da Casa de S. Paulo»:
– o que antecede a execução da Obra;
– o que decorre entre o lançamento e bênção da primeira pedra e o momento da sua inauguração, em 16 de Outubro de 1966;
– e o período que, desde esta data, se tem vivido.
Potencialmente, a Casa de S. Paulo nasce com a realização dos primeiros Cursos, no Seminário da Sé. Não era possível dispor-se de casa própria; as condições estavam muito longe de ser ideais, mas a boa vontade do Reitor do Seminário e o entusiasmo dos primeiros dirigentes do Movimento permitiram o arran que. O 5.° Curso realizou-se num hotel alugado, em Entre-os-Rios, onde foi necessário um maior esforço da parte dos dirigentes, já que, naturalmente, houve que proceder a adaptações. Também o encargo material que o aluguer representou obrigou a, mais uma vez, perturbar o funcionamento do Seminário da Sé, onde se realizaram o 6.º e 7.° Cursos.

QUANDO SE AMA …
Os responsáveis padres e leigos -sentiam que o Movimento estava lançado, que não se podia parar, e compreendiam a necessidade urgente de um local permanente para a realização dos Cursos. Depois de muitas diligências e tentativas, consegue-se que o antigo Hotel da Torre, em Entre-os-Rios, fosse cedido ao Secretariado, que empenhou enorme esforço na sua adaptação. Era ainda escasso o número de cursistas; o Movimento vivia em condições economicamente deficitárias, mas o apelo que então foi feito através de  ofertas e de empréstimos permitiu tornar habitável, embora com muitas incomodidades, um edifício que há  alguns anos se  encontrava fechado. Tudo quanto se conseguiu foi fruto do Amor; muitos foram aqueles que não se pouparam a sacrifícios para que outros pudessem realizar o seu Curso. Não faltou quem desse o seu trabalho braçal alguns sacrificando mesmo as suas férias e a «Casa de Entre-os-Rios» começou a funcionar, ao serviço da Igreja, através do Movimento dos Cursos. O primeiro Curso que ali se fez foi o oitavo, com início em 29 de Setembro de 1962. Quantos recordam, com ternura, a simplicidade e o bom gosto da  Capela! Quantos se recordarão das incomodidades dessa Casa que muitos visitavam amorosamente, poucos dias após o seu Curso! As incomodidades eram muitas; o frio no Inverno e o calor no Verão eram quase insuportáveis!  Alguém definiu, nessa época, um Curso de Cristandade como: «uma  coisa  em  que  se  entrava  de  corpo  limpo  e  de alma suja e se saía de corpo sujo, mas de alma  limpa».

…e O AMOR FOI POSTO A PROVA
Naturalmente que, nessa altura, ninguém pensava ainda, concretamente, na Casa de S. Paulo, mas, insensivelmente, o seu embrião estava criado. O amor que fora e era posto na utilização da Casa de Entre-os-Rios constituía uma potência que garantia outros voos a que os homens de boa vontade se lançassem. Os Cursos foram-se realizando, sempre com entusiasmo, até que, quando se preparava  o 29º de Homens, o Secretariado se viu obrigado, por motivos de ordem económica, a ter de escolher outro local. Viveu-se um momento difícil; consideraram-se várias hipóteses; bateu-se. a algumas portas, e a única solução que se afigurava , possível consistiu em utilizar, em regime de aluguer, o Hotel das Caldas de Canaveses. Novas necessrdades de adaptação, agravadas pelo facto de o Hotel não poder ser utilizado nos meses  de Verão, em virtude de, nessa época, abrir ao público. Mais uma vez se recorreu ao Seminário da Sé, e, depois, ao de Vilar.

SE O GRÃO DE TRIGO NÃO MORRER …
Além deste «permanente andar com a mala às costas», e além das deficiências que, para a realização dos Cursos o Hotel apresentava (quantos elementos de equipas reitoras se lembrarão, por  exemplo,  do  trabalho que representava a organização da «biblioteca» !), o custo da sua ocupação constituía também um sério problema para o Movimento, cujas  despesas  aumentavam constantemente e cujas únicas receitas eram constituídas pelos Ofertórios das missas e pelos  saldos positivos que, do ponto de vista económico, alguns cursos  proporcionavam. A necessidade de uma Casa própria impunha-se, e é na altura da realização do 50.° Curso que o Secretariado resolve acender um rastilho que, alimentado pela generosidade, viria a fazer explodir o amor que levou à Casa de S. Paulo. Nesta despretensiosa narrativa, ainda lá não chegamos…

e DEUS QUER, O HOMEM SONHA…
O primeiro pensamento é este: «Se encontrássemos uma casa velha, do tipo da Casa de Entre-os-Rios, cujas obras de adaptação os cursistas pudessem pagar !» E a oportunidade surge: há um edifício abandonado, nas Termas de S. Vicente, o antigo Hotel da Várzea, dispondo de um amplo terreno e que se encontra à venda. Fazem-se cálculos relativos às obras de reparação e verifica-se que serão necessários cerca de 600 contos para tornar a casa habitável e funcional. Conversa-se como o Sr. Administrador Apostólico, que vivia connosco as dificuldades e os frutos do entusiasmo do Movimento, que sempre acarinhou, e pôs-se-lhe a hipótese de a Diocese adquirir a Casa, se os cursistas estivessem dispostos a contribuir com a quantia necessária para as indispensáveis reparações e adaptações. Espontaneamente, o Secretário informa o Sr. D. Florentino que, se o sonho se viesse a concretizar, era seu desejo que a Casa pudesse vir a ser utilizada não só para a realização de Cursos de Cristandade, como também para nela se efectuarem outras actividades da Igreja.

e ULTREIA INESQUECÍVEL …
O nosso Administrador Apostólico aceita a hipótese, e o problema é posto em Ultreia, no dia 10 de Novembro de 1964. Tivemos então a mais extraordinária confirmação do espírito de catolicidade que norteava os cristãos que tinham passado por um Curso de Cristandade. A questão é posta nos termos acima referidos, ao mesmo tempo que se expõe a situação deficitária do Secretariado. E pergunta-se: «Estais dispostos a contribuir, mensalmente ou por uma só vez, com uma quantia que, representando um pequeno sacrifício, não afecte o equilíbrio financeiro do vosso lar? Se o fizerdes, a vossa contribuição será apenas conhecida por três elementos de uma comissão que, frente ao Sacrário, se comprometem a sigilo absoluto». No final das Reuniões de Grupo, o clima atingido foi extraordinário. Um dos dirigentes segurava um saco onde, todos os que queriam, padres e leigos, colocavam o seu sobrescrito.

e ALEGRIA E ESPERANÇA
Vivia-se uma alegria sã, muito entusiasmo, não faltando até certos gracejos. Alguém dizia: «Compro esse saco por 100 contos»; outro oferecia 200 contos, e o detentor do saco respondia, pleno de optimismo, que nem por 300 o venderia! No final da ultreia, um sacerdote da equipa gasta algumas horas a «apurar» os resultados: entre dinheiro entregue e promessas de entregas ultrapassara-se os 400 contos! Algumas ofertas eram acompanhadas de palavras de incitamento e constituíam autênticos testemunhos de caridade, uma vez que fora posto, claramente, que a Casa se destinava a que «outros passassem por um Curso». Havia ofertas monetariamente grandes e pequeninas, e havia também – louvado seja Deus ! – quem dissesse que: «apenas» poderia oferecer as suas orações. Outros diziam que a sua dádiva se destinaria a atenuar o «déficit» do Secretariado se a Casa se não viesse a adquirir.

e AMOR PARTIDO AOS BOCADINHOS
Perante os resultados conseguidos, resolveu-se enviar a todos os cursistas uma circular, expondo o mesmo problema. As respostas foram chegando, parecendo-nos que não é legítimo deixar de transcrever algumas palavras que então foram escritas: «0 nosso casal (em  reunião) resolveu substituir os «encargos» com lembranças de aniversário de um dos membros (que hoje se festejaria) por uma dádiva que a este cartão se junta assim corresponde da maneira que pode ao apelo da última quinta-feira.» … « pela tua  boca  a voz do Senhor chamou por mim e eu respondi à chamada meio dia de trabalho é muito pouco mas o Senhor sabe que não posso dar mais se forem precisas  orações e sacrifícios pede que eu responderei de novo ao Senhor.»… « Debato-me no momento com extraordinárias dificuldades materiais, de modo que não posso ir além de 20$00 mensais, durante o período que for julgado necessário.»«…No Banco de Deus pomos a render a quantia de 200$00 (duzentos) escudos para que a Casa dos Cursos seja uma realidade.»«…Que o Senhor nos ajude para que esta grande Obra tenha o seu bom fim.»«…Eu, um simples operário em consciência entendo que os Cursos de Cristandade são o que há de melhor para fazer a paz entre a família, e também o são para a convivência humana entre categorias sociais diferentes dou o que realmente posso o que é muito pouco mas se as dificuldades forem grandes Deus há-de permitir que eu possa depois dar mais. Deus abençoe esta Obra.»«…Espero que conforme as possibilidades de cada irmão todos sejamos generosos e voluntários pois uma Casa onde se houve, fala, e aprende a Conhecê-lo melhor era necessária em cada cantinho do Universo…»«…Entregam o que prometeram a Jesus Cristo para sua maior glória e nosso bem.»«…Tenho dez filhos e tenho vivido com muitas dificuldades mas peço-vos desculpa por só poder inscrever-me com 300$00 isto é o que eu entendo segundo minhas posses…»«…Pelas muitas dificuldades que tenho no momento empresto ao Senhor mil sacrifícios: 1 000$00.»«…Habituei-me àquela verdade numa oração do nosso Guia: – é no dar que se recebe e eu que tenho recebido antes de dar, porque não hei-de dar depois de ter recebido?»«…Oxalá que o vosso desejo seja realizado, para bem de todos que já  foram ao Curso  e  daqueles  que lá precisam de ir. Se porventura vós não atingires o número do dinheiro desejado falai novamente aos corações generosos que sereis atendidos empregai o vosso esforço para bem de todos.»«…Atendendo à minha situação de estudante sem meios próprios de receita, comprometo-me, conforme as minhas economias, a dar 500$00, distribuídos por seis meses. É pobre o meu contributo pecuniário: mas  é de boa vontade e conforme as minhas possibilidades. Porém, procurarei contribuir mais, para essa nossa tão desejada Obra, pela  oração, pelos sacramentos e pelo sacrifício.»«…Eu estou muito de acordo com o que me mandaste dizer. Mas para esse fim não vamos de pé atrás marchemos em frente pois nós se trabalharmos para isso trabalhamos para o Senhor. De mim e da minha querida esposa irmãos em Cristo um abraço. Oferecemos 100$00.»«…Não esquecerei nas minhas orações esta intenção para que todos unidos  num  só  possamos  levar avante esta Obra que é nossa. Fazendo votos para  que este projecto seja um  êxito…»«…Entendo que a aquisição da dita Casa é um grande bem para se continuarem a poder fazer os Cursos de Cristandade e entendo que se não se  conseguir já a verba necessária que• se poderia pedi-la emprestada e que os cursistas iriam lentamente amortizando essa dívida com as suas cotizações até completo pagamento do empréstimo…»«juntam orações…»«…Sou operário e presentemente não estou preparado para oferecer ao Senhor o que Ele merece além desta pequena importância: 100$00. Oferecer-lhe-ei, pelo tempo fora, o meu amor e o meu sacrifício.»«…Contai comigo em tudo, mas dinheiro só posso oferecer, com muito sacrifício, 5$00 ou 10$00. Ofereço também Intendência e oração para que obtenhais o sucesso devido.»«…Junta a importância de 300$00, sua contribuição para a Casa dos «cursos» e para glória e melhor conhecimento de Cristo, Senhor nosso.»«…Os homens felizes, encantados mandam no envelope dinheiro Prá casa dos cursos de Cristandade. É o sonho mais feliz do ano inteiro.»«…Junto envio uma importância para a «casa dos Cursos». Sem mais, recebam um abraço em Cristo operário.»«…Deus sabe que, no momento, não posso (ou não devo?) dar mais de 500$00, mas tenho fé n’Ele em que me permita, oportunamente, dar mais.»«…É teu, Senhor: Já mo devolves-te na alegria de o não ter perdido.»«…Depois de consultar o Senhor ofereço para a nossa Casa, além do já prometido 50$00 mensais embora para isso tenha ou de fumar menos ou até deixar de fumar mas não me posso• esquecer a alegria que trouxe do meu… Curso.»«…O não ter dito, ainda, nada sobre o assunto da Casa, talvez não seja falta de interesse sobre o assunto, mas um ganhar de forças para o que venha a dar, represente, realmente, sacrifício. Do meu orçamento familiar, não sei se deva retirar o que quer que seja, tão limitado é. Por isso pensei e resolvi tirar a minha contribuição do orçamento particular (tenho 250$00 para transportes, tabaco, café, etc.). Daqui vão sair 40$00 que será a minha oferta e há-de ser fruto de menos tabaco, menos café, etc. Que o Senhor me ajude a construir também o edifício da minha santidade. Que a Casa dos Cursos, na qual terei a minha pequenina parte, seja bela e digna do Senhor que lá se há-de manifestar a muitos. Que eu possa também dizer, nessa altura: Que belo edifício de renúncia, amor, bondade e caridade construístes em mim, neste tempo, Senhor!»«…Minha mulher e eu temos  a consciência bem viva de que se trata dum  problema fundamental para a Igreja do Porto e que, sendo da Igreja, é, portanto, um problema nosso…»A transcrição de todas as cartas que se receberam tornaria demasiadamente extensa -se é que não o está já -a presente narrativa. Julgamos, no entanto, que a ideia que se desejava dar quanto ao espírito com que o projecto fora recebido fica bem demonstrada. Comunicado tudo isto ao Sr. D. Florentino, este pede a peritos que façam a avaliação da Casa e terrenos do  Hotel da  Várzea e, em  face  da  sua  opinião, o imóvel é adquirido pela Diocese. Pedem-se orçamentos concretos para •iniciar as obras e, então, surge o inesperado …

e A OBRA NASCE
Alguns cursistas não concordam com o local; outros entendem que a Casa não ficará nas devidas condições; outros pensam que as obras de conservação virão a constituir um encargo pesado para o Secretariado. E começam a surgir alvitres de que nos lancemos na construção de uma Casa nova, demolindo totalmente o Hotel ou construindo-a noutro lugar. De repente, por livre iniciativa, um grupo de cursistas de Cortegaça prontifica-se a oferecer um terreno no interior de um pinhal, perto da praia de Cortegaça.A visita ao local deixa os dirigentes maravilhados. Seria  possível? O grau de generosidade permitiria pensar em gastar, em  vez de 600 contos, alguns  milhares? Tinha que se pisar um terreno firme, uma  vez  que não era legítimo criar qualquer espécie de problemas à  Diocese e, em especial, ao Sr. Administrador Apostólico. O Secretariado e a Equipa Sacerdotal não podem decidir sozinhos e resolve-se enviar uma circular a todos os cursistas da Diocese, perguntando-lhes se estariam dispostos «a contribuir mensalmente, durante 4 ou 5 anos, com a quantia que indicassem» e que não seria divulgada. As respostas recebidas e o quantitativo atingido lançam-nos para a frente. Efectua-se uma entrevista com três  directores de  outros  tantos  Bancos,  ficando assegurado um  em­ préstimo   para   executar   a   Obra.   Numa   reunião   do Secretariado, alguém   toma   um   papel   e,  em   poucos minutos, faz um esquema da Casa. A aprovação é geral. Já  se não  podia  parar.  Uma  firma  de construções  pro­ põe-se  fazer  a  Casa  sem  lucro.  Organiza  o  projecto  e apresenta   o  seu  orçamento,  pedindo   que  consultemos outras empresas.  Perante  a quantia  indicada, arquitectos e  engenheiros  integrados  no  Movimento  entendem  que não há necessidade  de abrir concurso  para a construção.

e  DE  MÃOS  DADAS  COM  O  BISPO
O projecto é enviado para Roma, onde decorria uma das sessões do Vaticano II e onde se encontrava o Sr. Administrador Apostólico. Este dá o seu acordo e envia-nos palavras de incitamento e a sua bênção. Algum tempo depois, inicia-se  a  concretização   do sonho: o Sr. D. Florentino, já em Portugal, preside ao lançamento e à bênção da primeira pedra. E a  construção principia, num  ritmo que todos admiram. Nomearam-se comissões para tratar do recheio da Casa; as deslocações a Cortegaça eram constantes; as reuniões sucediam-se. Alguém vai filmando as diferentes fases da construção; vão-se recebendo mais adesões, tudo de um modo natural, anonimamente.

e  CHAMOU-SE  CASA  DE  S.  PAULO
Um dia, organiza-se um passeio ao local em que a Obra ia crescendo e, na zona onde viria a ficar a Capela, monta-se uma instalação sonora e um dos padres da equipa faz uma descrição circunstanciada de como seria a Casa. É neste dia que diversos casais se comprometem a oferecer quase tudo quanto era preciso para a Capela e tanto mais. Há um momento importante na história da construção: num dos vários encontros em Cortegaça com o Sr. D. Florentino, na Sala de Rollos, ainda sem cobertura, um porta-voz do Secretariado propõe-lhe que a Casa se venha a designar por «Casa de S. Paulo». O Administrador Apostólico recebe a ideia com alegria e a Casa passa, assim, a tomar o nome do Apóstolo que, algum tempo antes, Paulo VI designara como Patrono dos Cursos de Cristandade.

Valor Material
O delineamento, a construção  e o recheio da Casa de S. Paulo foram norteados por dois princípios  básicos: que nela se pudessem realizar Cursos de Cristandade e todo o tipo de retiros; que, entre os que a viessem a utilizar, uns sentissem um pouco mais e outros  um pouco menos de conforto do que aquele que as suas habitações lhes proporcionavam. Na construção e no recheio adquirido gastaram-se 3 509 068$00. Com o terreno, tudo quanto foi oferecido e ainda alguns melhoramentos, julgamos poder avaliar a Casa de S. Paulo em cerca de 5 000 contos.

Porquê um Cano
Não é possível descrever o carinho que foi posto nos mais pequenos pormenores, o significado de tantas ofertas recebidas, desde a arca que se  encontra logo à entrada, à Via-Sacra que se encontra numa das Capelas pequenas, cujo altar é o mesmo que fora montado na primitiva Casa de Entre-os-Rios, ao Sacrário, órgão (oferecido mais tarde), à pedra do altar, cálice e paramentos. Lençóis, cobertores, faqueiros, louças, abertura da pequena estrada que constitui o  desvio que leva à Casa -um nunca acabar de trabalho de grupos de senhoras, um nunca acabar de actividade desenvolvida por tantos padres e leigos! Um pequeno pormenor: o cano que serve de sineta é o mesmo que, durante as obras, anunciava aos operários o início e o fim do trabalho. É ele que ainda hoje chama  aqueles que se deseja que sejam autênticos operários da caridade cristã.

Chegou o Dia Grande
É difícil ir-se mais longe nesta descrição. Na semana anterior à inauguração iniciaram-se as limpezas e a colocação de tudo nos respectivos lugares. Quantas foram as graças que o Senhor enviou a tantos que tiveram a felicidade de assistir e de participar em todos estes trabalhos, fruto de um amor consciente  aureolado da mais santa alegria! Alguns recordarão a alegria da Sr.ª Adelaide, a cozinheira que desde Entre-os-Rios sempre nos acompanhou, ao beijar o fogão! Foram dirigidos convites a todos quantos tinham passado por um Curso na nossa Diocese e a todos os operários que haviam colaborado na edificação da Casa. Transcrevem-se aqui as palavras que constituíam o convite e as do verso de uma estampa reproduzindo a imagem de S. Paulo, que se encontra  no átrio da entrada:

CASA DE S. PAULO
Caríssimo, O Secretariado dos Cursos de Cristandade da DioCese do Porto, vem, jubilosamente, comunicar-te a inauguração oficial da «nossa casa» que ficará a designar-se por «Casa de S.  Paulo». Será no próximo dia  16 de Outubro. Às 15 horas o senhor Bispo descerrará uma lápide comemorativa, procederá à bênção da Casa, seguindo-se a visita às instalações e terminando com a celebração da Santa Missa, às 16 horas. Como é óbvio, a casa estará fechada no dia 16 até às 15 horas. “‘Contamos com a tua presença, porque a casa também é tua -ela só foi possível com o sacrifício, as orações, o amor de todos. Poderás levar os teus familiares.Preparemos a inauguração da «Nossa Casa » com mais oração e agradeçamo-la ao Senhor, no dia 16, com a nossa comunhão, na 1ª missa que ali será celebrada.O Secretariado está a procurar assegurar o transporte, em autocarro, para os que não tenham outro meio de transporte. As inscrições estão abertas até ao dia 8 de Outubro, no Secretariado. Também poderás utilizar  o comboio.Aproveitamos a oportunidade para te informar que temos programado um retiro para casais cursistas, a efectuar na Casa de S. Paulo a 4, 5 e 6 de Novembro. Estão abertas as inscrições, na que respeitaremos a norma da prioridade de inscrição. Se o número o justificar, promoveremos outros Retiros para casais, cursistas, em data a indicar posteriormente.Deixa que te saudemos, a ti e aos teus, ao modo do nosso S. Paulo:«Quanto ao resto, irmãos, sede alegres, trabalhai na vossa perfeição, confortai-vos, tende um mesmo sentir, vivei em paz.A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunicação do Espírito Santo sejam com todos vós».

Na referida pagela, dizia-se: «A recordar a inauguração da «Casa de S. Paulo a 16 de Outubro de 1966, querida por ELE, sonhada pelos homens e construída pelos cristãos de boa vontade, que um dia fizeram um Curso de Cristandade, na DIOCESE DO PORTO, e posta, nesta  data, ao serviço da  Igreja».Milhares de pessoas assistiram à inauguração e participaram na Santa Missa que, em seguida, o Sr. D. Florentino celebrou. Um circuito interno de televisão per­ mitiu que todos pudessem ver o que se passava  na Capela.A emoção venceu muitos dos que viveram este dia. Para estes não são necessários nem possíveis palavras que pretendessem traduzir o que cada um sentiu.O que os Olhos não Vêem

Quem entra hoje na Casa de S. Paulo também não poderá, por muito que queira, avaliar tudo quanto ela representou e nem mesmo se aperceba, talvez, da dedicação e do esforço das Religiosas da Comunidade das Missionárias Reparadoras que asseguram quase desde início o seu funcionamento. Apenas ao Serviço da Igreja.

O Movimento dos Cursos de Cristandade• apenas utiliza a Casa em cerca de metade dos dias em que ela se encontra ocupada; a restante metade é utilizada na realização de retiros de  sacerdotes, de seminaristas, de casais, de diversas outras Obras da Igreja que os Cursos servem também por este processo, já que a exploração da Casa de S. Paulo não dá quaisquer lucros ao Secretariado.

Aos de ONTEM e aos de HOJE

A Casa de S. Paulo é uma vivência. Para os que a viveram será fácil recordar todo o AMOR que permitiu que ela fosse a realidade que hoje é. Quem por lá passa agora, num Curso, num Retiro, num Encontro, costuma gostar. Ao escrever esta pequena história, houve um objectivo: se viveste na Casa de S. Paulo procura avaliar quanto AMOR, quanto espírito de Igreja foi necessário para que lá pudesses ter feito uma paragem na tua vida. Nessa avaliação ficarás longe da realidade mas, se quiseres, poderás aproximar-te dela um pouco, sobretudo se te esforçares por compreender que foi porque outros se sacrificaram alegremente que pudeste viver uns dias numa Casa da Diocese que, por ser da Igreja, também é tua.Para muitos, o sacrifício dura já há bastante tempo. Eles já entregaram correspondendo a juros  bancários  e tendo o produto da venda do Hotel da Várzea (cerca de 400 000$00) revertido a favor da construção.Se quiseres, podes juntar-te a eles, durante muito menos tempo. Não sabes quem eles são e eles não saberão quem tu és. Sobretudo por ser assim, não quererás ajudá-los?”