Génese

O nascimento dos Cursilhos de Cristandade começa com o fim da Guerra Civil de Espanha, que durou de 1936 a 1939, deixando a economia do país completamente arruinada, e o povo a chorar os seus cerca de um milhão e duzentos mil mortos.
Como lhe competia, logo que a Guerra terminou, a Igreja reiniciou o esforço de pacificação e de recuperação social e, para isso, sabia que mobilizando a juventude o poderia fazer com mais entusiasmo e eficácia. E, a partir da Juventude da Acção Católica, foi pensada uma Peregrinação Nacional a Santiago de Compostela, idealizando-se uns cursos, com a duração de uma semana completa, como preparação para a fé consciente e entusiasta compatível com o espírito da peregrinação. Começava com um retiro espiritual apoiado nalguns passos dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola e, depois, para além da meditação matinal diária, o programa repartia-se por cinco lições sobre a Graça desenvolvidas por um sacerdote, por numerosos temas que incluíam o tripé da Piedade, Estudo e Acção, e outros referentes à Acção Católica e à organização da peregrinação. Exceptuando o retiro, o resto do programa envolvia-se naturalmente num ambiente de comunicação sobre os temas ouvidos, intercalados por cânticos colectivos não só piedosos como também folclóricos.
Ao segundo curso convidaram a participar um jovem militar de 29 anos, Eduardo Bonnin, de Palma de Maiorca, educado num ambiente de fé católica, que sobressaía pelo seu bom humor, por andar sempre com um livro debaixo do braço e com grande capacidade de diálogo e cultura elevada. Bonnin logo de apercebeu que se estava perante um método extraordinário de espiritualidade, um elemento óptimo para a conversão da juventude de Palma de Maiorca.

“Estudo do ambiente” génese do Movimento

O jovem Bonnin vivendo intensamente o curso, foi-se apercebendo de que, aperfeiçoando o programa, poderia ser esta uma resposta inovadora de evangelização. E escreveu o “Estudo do Ambiente”, génese do Movimento dos Cursilhos de Cristandade, que expôs em 1943, no Seminário Diocesano de Maiorca, durante a Festa da Imaculada Conceição (padronizada por uma Imagem Peregrina ida do Santuário de Fátima). No tema, Bonnin considerava que, perante uma sociedade que concedia cada vez menos espaço aos critérios evangélicos, os pastores de almas já não podiam continuar a ocupar-se só daqueles que recorriam às estruturas pastorais da Igreja, mas que seria necessário dar início a uma transformação ambiental que atingisse tudo e todos.
Ou seja, que a realidade da vida se move mais pelos ambientes do que pelas estruturas ou classes, e que, para transformar cada ambiente próprio pela Palavra de Deus, era necessário um sério estudo sobre ele, distinguindo os líderes, aqueles cujo carisma espiritual se evidenciava, independentemente da qualidade da sua fé, conquistando, em primeiro lugar, o seu coração, para depois tentar iluminar a sua inteligência e, por último, a sua vontade. E, em perfeita consonância com alguns companheiros mais credenciados, Bonnin adoptou todo o programa do curso, considerando-o já não com o objectivo da peregrinação mas para além dela, nos ambientes da vida social, profissional e política, dirigindo-o a pessoas de diferentes níveis culturais, com fé ou mesmo descrentes. Alteraram o tempo de duração para três dias e introduziu uma Via Sacra da autoria de Manuel Llanos. Quanto aos vários temas da responsabilidade dos leigos, tendo por base o “Estudo do Ambiente”, recorreram à experiência de diversos pensadores religiosos, como Romano Guardini, Karl Adam, Karl Rahner, Cardeal Cerejeira, entre outros, constituindo um programa mais conceptual e metodológico, uma pastoral de evangelização contraposta a uma pastoral predominante de conservação.O jovem sacerdote, Sebastian Gaya, responsável pela Pastoral Universitária de Maiorca, tornou-se um entusiasta férreo do método, logo que Bonnin o expôs na “sua” Escola de Estudos Bíblicos, em 1944.